terça-feira, 16 de outubro de 2007

vinte e seis primaveras, e vivo.
















uma das inúmeras coisas inexplicáveis, e que penso a respeito é a existência de alguma coisa que eu posso simplesmente agradecer por tudo que me cerca. inclusive as coisas que parece absurdo agradecer, pelo fato de achar que existe um equilíbrio compensador pra tudo, inclusive nossas vidas. se eu desse um nome original pra isso, eu inventaria mais uma religião, mas acho que já fizeram muito disso por aí.
acho que a gratidão deve ser colocada em tudo que faço, nas pessoas que amo, e em mim mesmo, pra não deixar ser colocado abaixo pelas merdas que acontecem.
eu não sei o que desejo, o que é a mim merecido, ou o potencial a ser alcançado. mas sou extremamente grato por essas coisas tão simples que acontecem, e que têm tanto valor para mim. tudo bem, hoje é um dia de excesso de afeto, mas é incrível, sempre tenho disso por ai, mais aleatóriamente, de vários jeitos.
não sei se um dia vou ter mais ou menos que agora, vou ser mais ou menos que agora, e assim por diante, em todo tipo de aspecto possível. mas quando paro pra analisar essas fortunas, eu não consigo achar outra explicação para felicidade pura. sou excessivamente sentimental, e humilde em relação ao que eu tenho, mas é a única coisa no mundo que vou ter medo de perder. eu não consigo achar outra explicação plausível pra nenhuma outra razão de existir, e eu questiono tudo mais que há.
espero que eu possa sempre demonstrar gratidão, e compensar a altura o que significam pra mim.
obrigado por existirem, amo vocês incondicionalmente.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

a revolução não vai passar na televisão

"- Olhe para a humanidade – dizia Ricky – não há nada certo no mundo do jeito que está. Para todo lugar que você olha, estão atirando bombas e as pessoas estão sofrendo com enchentes e doenças. Para o estado avançado que a humanidade atingiu tecnologicamente, nada foi alcançado humanitariamente. Desconforto e insatisfação. Hippies, yuppies, beatniks, anarquistas, revolucionários, rebeldes, comunistas... não existem mais pessoas comuns, que acreditam em viver a vida singularmente e em encontrar uma paz separada?

- A paz foi criada pelas pessoas, como um modo de descrever a unidade de deus. Não há mais Thomas Mores, se é isso o que você quer dizer – discursou I.Q.

- Então, por que tenho que permanecer nessa condição? Eu acredito em reencarnação. Acho que estaria muito melhor como uma outra forma animal, se esta for a mais elevada. Não preciso saber de nenhuma dessas coisas. Por que tenho que me adaptar? – Ricky se voltou pra mim. – Você sabe quais são as respostas? O sentido da vida não pode estar na preparação para louvar a deus para sempre... assim como não consigo me ver ajoelhado aos pés do deus todo poderoso, cantando sua glória. – Ricky ergueu o rosto e havia lágrimas em seus olhos. Pensei que aquilo era uma atitude de garoto branco. Toda essa conversa e essas palavras que soavam como algum tipo de livro. Que espécie de negro ficava doidão e soltava essa merda? – Simplesmente quer dizer que eu estaria tão bem em qualquer lugar do universo, quanto aqui. – disse Ricky. – O cérebro é formado por impulsos elétricos que nunca podem ser desligados. Isso significa que, quando a morte vem, ela corta a transmissão dos sinais do cérebro para o corpo. Não significa que o cérebro desiste por si mesmo. Eletricidade não desaparece como a respiração... eu não deveria ter que viver sob opressão, em algo menor que as condições humanas ideais, quando posso terminar neste fracasso... eu devia me matar.

- Quem, então, é livre? O homem sábio que consegue controlar suas paixões, que não teme a miséria, a morte, as grades, resistindo firmemente aos seus apetites e desprezando as honras do mundo, que confia totalmente em si mesmo, cujos pontos angulosos de caráter foram arredondados e polidos? – I.Q. fez um longo discurso e depois explicou, para que eu pudesse entender. – Se você não precisa viver, então, não precisa morrer."

(Gil Scott-Heron - The Vulture; 1970)

Gil Scott-Heron é um dos pais do rap, quando declamava acompanhado de percussão (rhythm and poetry). Cantor, compositor, poeta, pianista, ficcionista, inserido no contexto histórico e político da passagem dos anos 60 para os 70, da radicalização dos grupos negros, dos estudantes, dos ativistas anti Vietnã, das feministas, etc. Acho que devia ser uma época divertida.)